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cuidar é presença

nos últimos meses, inspirada tanto pelo trabalho, quanto pela relação com minha família,

especialmente os mais velhos, tenho refletido muito sobre a ideia de cuidado. o que é

cuidar? o que faz com que a gente se sinta bem cuidada ou o que nos faz boas cuidadoras? e

o que a gente deseja, quando cuida de alguma coisa ou de alguém?


cuidar, me parece, é presença. e nem sempre tem como horizonte a cura.

é um gesto sustentado no tempo, que aceita o inacabado.


ao mesmo tempo, curar é processo e só acontece se plantado no cuidado.

curar, muitas vezes, não é sobre interromper ou apagar o que dói ou incomoda, mas

transformar. não é necessariamente um fim, mas um começo.


e nesse sentido, ao ser convidada pelas mulheres da Caju Cultura, são perguntas que me

faço: do que vamos cuidar agora? quais começos plantaremos, para depois, em presença,

acompanhar suas transformações?


quando afirmamos que o futuro é ancestral, não estamos nos referindo a qualquer

ancestralidade. não nos interessa atualizar ancestralidades que nos conduzem para o

apocalipse, para um mundo em colapso, uma Terra machucada.


trata-se de um convite — ou melhor, de uma convocação — para reconhecermos e

interrompermos os pactos e legados colonial e escravocrata, cuja violência não pertence

apenas ao passado, mas que se reinventa cotidianamente, nos modos e costumes, na

produção de conhecimento, nas políticas de morte e destruição, nos corpos que resistem e

vivem.


nosso tempo carece de belezas. ou melhor, carecemos de espaço e tempo para lembrar e

reaprender belezas.


recusar a ideia de correr contra o tempo e dançar com ele, reverenciá-lo; saber aonde se

quer chegar, mas estar aberta também às rotas sopradas pelo próprio caminho; reconhecer

a imperfeição e acolher o silêncio e a contradição como partes.


acredito que um Festival pode ser esse lugar. se nos desprendemos de distrações coloniais

contemporâneas como ineditismo, originalidade, inovação, contrapartida social, vitrine

de importâncias, produtivismo e exaustão, há de acontecer o tempo e o espaço para a arte,

linguagem ordinária da Vida.


e quando me junto à essa gente incrível que faz o Festival CRIE como quem LUTA, sinto que

nos encontramos na urgência de relembrar e atualizar formas de existir e estar em relação,

de reestabelecer culturas de cuidado e respeito legítimo às diferenças, de se compreender

como parte, ritualizar e (re) encantar os dias.


vamos juntas.

Dani Scopin. jul./2025.

 
 
 

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