cuidar é presença
- coletivocajucultur
- 25 de jul.
- 2 min de leitura
nos últimos meses, inspirada tanto pelo trabalho, quanto pela relação com minha família,
especialmente os mais velhos, tenho refletido muito sobre a ideia de cuidado. o que é
cuidar? o que faz com que a gente se sinta bem cuidada ou o que nos faz boas cuidadoras? e
o que a gente deseja, quando cuida de alguma coisa ou de alguém?
cuidar, me parece, é presença. e nem sempre tem como horizonte a cura.
é um gesto sustentado no tempo, que aceita o inacabado.
ao mesmo tempo, curar é processo e só acontece se plantado no cuidado.
curar, muitas vezes, não é sobre interromper ou apagar o que dói ou incomoda, mas
transformar. não é necessariamente um fim, mas um começo.
e nesse sentido, ao ser convidada pelas mulheres da Caju Cultura, são perguntas que me
faço: do que vamos cuidar agora? quais começos plantaremos, para depois, em presença,
acompanhar suas transformações?
quando afirmamos que o futuro é ancestral, não estamos nos referindo a qualquer
ancestralidade. não nos interessa atualizar ancestralidades que nos conduzem para o
apocalipse, para um mundo em colapso, uma Terra machucada.
trata-se de um convite — ou melhor, de uma convocação — para reconhecermos e
interrompermos os pactos e legados colonial e escravocrata, cuja violência não pertence
apenas ao passado, mas que se reinventa cotidianamente, nos modos e costumes, na
produção de conhecimento, nas políticas de morte e destruição, nos corpos que resistem e
vivem.
nosso tempo carece de belezas. ou melhor, carecemos de espaço e tempo para lembrar e
reaprender belezas.
recusar a ideia de correr contra o tempo e dançar com ele, reverenciá-lo; saber aonde se
quer chegar, mas estar aberta também às rotas sopradas pelo próprio caminho; reconhecer
a imperfeição e acolher o silêncio e a contradição como partes.
acredito que um Festival pode ser esse lugar. se nos desprendemos de distrações coloniais
contemporâneas como ineditismo, originalidade, inovação, contrapartida social, vitrine
de importâncias, produtivismo e exaustão, há de acontecer o tempo e o espaço para a arte,
linguagem ordinária da Vida.
e quando me junto à essa gente incrível que faz o Festival CRIE como quem LUTA, sinto que
nos encontramos na urgência de relembrar e atualizar formas de existir e estar em relação,
de reestabelecer culturas de cuidado e respeito legítimo às diferenças, de se compreender
como parte, ritualizar e (re) encantar os dias.
vamos juntas.
Dani Scopin. jul./2025.
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